quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O SABIÁ E O GAVIÃO REAL






O sol anunciava o final de mais um dia e lá, entre as árvores, estava Emarã, um sabiá que não se cansava de observar Guaçu, o grande Gavião Real, cujo voo preciso e perfeito, enchia os seus olhos de admiração.
Sentia vontade em voar como Guaçu, mas não sabia como fazer.
Sentia vontade em ser forte como Guaçu, mas não conseguia ser assim. Todavia, não cansava de segui-lo por entre as muitas árvores da floresta só para vislumbrar tamanha beleza…!
Um dia, Emarã estava a voar por entre a mata a observar o voo de Guaçu, quando, de repente, Guaçu sumiu da sua visão.
Voou mais rápido para reencontrá-lo, mas Guaçu havia incrivelmente desaparecido.
Foi quando levou um enorme susto: deparou-se de uma forma muito repentina com o grande Gavião Real bem a sua frente.
Tentou conter o seu voo, mas foi impossível, acabou batendo de frente com o imponente e majestoso pássaro.
Caiu desnorteado no chão e quando voltou a si, pode ver aquele pássaro imenso bem ao seu lado observando-o.
Sentiu um calafrio no peito, suas asas ficaram arrepiadas e todo atrapalhado pôs-se em posição de luta.
Guaçu, em sua quietude, apenas o olhava calma e mansamente, e com uma expressão séria, perguntou-lhe:
- Por que estás a me vigiar, Emarã?
- Quero ser um Gavião Real como tu, Guaçu. Mas, meu voo é baixo, pois minhas asas são curtas e vislumbro pouco por não conseguir ultrapassar meus limites.
- E como te sentes, amigo, sem poder desfrutar e usufruir de tudo aquilo que está além do que podes alcançar com tuas pequenas asas? Perguntou Guaçu.
- Sinto tristeza! Uma profunda tristeza! A vontade é muito grande de realizar este sonho…! - Emarã suspirou olhando para o chão…! E disse:
- Todos os dias acordo muito cedo para vê-lo voar e caçar. És tão único, tão belo. Passo o dia a observar-te.
- E não voas? Ficas o tempo inteiro a me observar? Indagou Guaçu.
- Sim. A grande verdade é que gostaria de voar como tu voas…! Mas as tuas alturas são demasiadas para mim e creio não ter forças para suportar os mesmos ventos que, com graça e experiência, tu cortas harmoniosamente…!
- Emarã, bem sabes que a natureza de cada um de nós é diferente, e isto não quer dizer que nunca poderás voar como um Gavião Real. Sê firme em teu propósito e deixa que o Gavião que vive em ti possa dar rumos diferentes aos teus instintos. Se abrires apenas uma fresta para que o Gavião que está em ti possa te guiar, este dar-te-á a possibilidade de vires a voar tão alto como eu. Acredita!
E assim, Guaçu preparou-se para levantar voo, mas voltou-se novamente ao pequeno pássaro que o ouvia atentamente:
- Emarã, apenas mais uma coisa...: Não poderás voar como um Gavião, se não treinares incansavelmente por todos os dias.
O treino é o que dá conhecimento, fortalecimento e compreensão para que possas dar realidade aos teus sonhos. Se não pões em prática a tua vontade, teu sonho sempre será apenas um sonho.
Esta realidade é apenas para aqueles que não temem quebrar limites, crenças, conhecendo o que deve ser realmente conhecido.
É para aqueles que acreditam serem livres, e quando trazes a liberdade em teu coração poderás adquirir as formas que desejares, pois já não estarás apegado a nenhuma delas, porque serás livre!
E, assim, um sabiá poderá, sempre, transformar-se num Gavião, se esta for sua vontade.
Confia em ti e voa, entrega tuas asas aos ventos e aprende o equilíbrio com eles.
Tudo é possível para aqueles que compreenderam que são seres livres, e que para tanto basta apenas acreditar, basta apenas confiar na capacidade em aprender e ser feliz com a sua escolha.








quarta-feira, 23 de outubro de 2013

PINTURA DA PAZ




Certa vez, foi decidido que haveria um concurso de pintura na tribo e o primeiro lugar seria dado à pintura que melhor representasse a paz.
Ficaram, dentre tantos, três finalistas igualmente empatados.
A primeira pintura retratava uma imensa pastagem, com lindas flores e borboletas que bailavam no ar, acariciadas por uma brisa suave.
A segunda mostrava pássaros a voar sob nuvens brancas como a neve, em meio ao azul anil do céu.
A terceira mostrava uma grande montanha, sendo açoitada pela violência de uma chuva tempestuosamente estrondosa e cheia de relâmpagos.
Para surpresa e perplexidade dos finalistas, a escolhida foi a terceira pintura, que retratava a violência da chuva tempestuosa contra a montanha.
Indignados, os dois pintores que não foram escolhidos questionaram o Pajé que deu o voto de desempate:
- Como este quadro tão violento pode representar a paz? Perguntaram!
E o Pajé, com uma serenidade muito grande no olhar, disse:
- Vocês repararam que, em meio à violência da chuva tempestuosa, há numa das fendas da montanha, um passarinho com seus filhotes, dormindo tranquilamente?
E os pintores sem entender responderam:
- Sim, mas...!
Antes que eles concluíssem a frase, o Pajé ponderou:
- Caros parentes, a verdadeira paz é aquela que, mesmo nos momentos mais difíceis, nos permite repousar tranquilos.
Talvez muitas pessoas não consigam entender como pode reinar a paz em meio à tempestade, mas não é tão difícil de entender.
Considerando que a paz é um estado de espírito podemos concluir que, se a consciência está tranquila, tudo à volta pode estar em revolução que conseguiremos manter nossa serenidade.
Fazendo uma comparação com a pintura vencedora, poderíamos dizer que o ninho do pássaro, que repousa serenamente com seus filhotes, representa a nossa consciência.
A consciência é um refúgio seguro, quando nada tem que nos reprove. E também pode acontecer o contrário: tudo à volta pode estar tranquilo e nossa consciência arder em chamas.
A consciência, portanto, é um tribunal implacável, do qual não conseguiremos fugir, porque está em nós.
É ela que nos dará possibilidades de permanecer em harmonia íntima, mesmo que tudo à volta ameace desmoronar, ou acuse sinais de perigo, solicitando correção.
Assim sendo, concluímos que a paz jamais será implantada por decretos nem por ordens exteriores, mas será conquista individual de cada espírito, de cada criatura, portas adentro da sua própria intimidade.




terça-feira, 22 de outubro de 2013

O COLAR REFLETIDO



          Há muito, muito tempo, desde as primeiras canções, um grande e poderoso Cacique da tribo, havia presenteado sua filha, a linda princesa Kapaí, com um belo colar de pedras brilhantes.
O colar foi perdido e as pessoas da tribo procuraram-no por toda a parte sem conseguir encontrá-lo.
Então, alguém disse que um pássaro poderia tê-lo levado, fascinado pelo brilho de suas pedras brilhantes.
O Cacique, então, pediu a todos que voltassem a procurá-lo e anunciou uma grande recompensa para quem o encontrasse.
Um dia, um jovem guerreiro caminhava de volta para casa ao longo de um igarapé, que possuía suas águas completamente poluídas, sujas e com um mau cheiro terrível.
Enquanto andava, o jovem guerreiro viu algo brilhar nas águas do igarapé e quando olhou viu o colar de pedras brilhantes.
Decidiu tentar pegá-lo de forma que pudesse receber a recompensa prometida pelo Cacique. Assim, pôs sua mão no igarapé imundo e agarrou o colar, mas de alguma forma o perdeu e não pegou.
Tirou a mão para fora e olhou outra vez para as águas do igarapé e o colar estava lá, imóvel.
Recomeçou, desta vez entrou no igarapé imundo, sujando suas pernas, afundou seu braço inteiro para pegar o colar. Mas estranhamente, ele perdeu o colar novamente!
Saiu e começou a ir embora, sentindo-se amuado e deprimido.
Então, olhando para a água do igarapé outra vez, ele viu o colar, bem ali. Desta vez ele estava determinado a pegá-lo, não importava como.
Decidiu mergulhar no igarapé, embora fosse algo repugnante fazê-lo, tal a sujeira de suas águas, que seu corpo inteiro tornou-se imundo. Portanto, mergulhou e mergulhou e procurou por toda a parte pelo colar, mas fracassou novamente.
Desta vez ele ficou realmente perturbado e saiu de dentro do igarapé, sentindo-se mais deprimido ainda já que, sem conseguir pegar o colar, não receberia a recompensa prometida pelo Cacique da tribo.
Um velho índio, que passava por ali, vendo o jovem guerreiro perturbado, perguntou-lhe o que estaria acontecendo.
O jovem, totalmente amuado, não quis compartilhar o segredo com o velho, pensando que o velho poderia tomar-lhe o colar, por isso recusou-se a explicar o real motivo de toda a situação para o velho.
Mas o velho índio pôde perceber que o jovem estava incomodado e, sendo compassivo, outra vez pediu ao rapaz para que lhe contasse qual o problema e ainda prometeu que não contaria nada para ninguém.
O jovem reuniu alguma coragem e, como já dava o colar como perdido decidiu pôr alguma fé no velho.
Contou sobre o colar e como ele tentou e tentou pegá-lo, mas não conseguia de maneira alguma.
O sábio e velho índio lhe disse, então, que talvez ele devesse tentar olhar para cima, em direção aos galhos da árvore, em vez de olhar para baixo, para o igarapé imundo.
O rapaz olhou para cima e, para sua surpresa, o colar estava pendurado no galho de uma árvore.
Havia, o tempo todo, tentado capturar um simples reflexo do colar.
A felicidade material é exatamente como o igarapé poluído e imundo, porque é um mero reflexo da felicidade verdadeira no mundo espiritual.
Não alcançaremos a felicidade plena que procuramos na vida material, não importa o quanto nos esforcemos.

Em vez disso, devemos “olhar para cima”, em direção a Deus, que é a fonte da felicidade real, e parar de perseguir o reflexo desta felicidade no mundo material, porque a felicidade espiritual é a única coisa que pode nos satisfazer completamente.