segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A TRIBO ESTÁ EM FESTA!


Chegou pra brincar
com o povo na floresta!
Alegria e festa,
emoção que faz delirar!

Enfeita o terreiro
e acende a fogueira!

Ribumba tambor!
Ribumba tambor!
Faz tremer este chão!

Sateré, Sateré, Sateré, Mawé!
Sateré, Sateré, Sateré, Mawé!

Urupadi! Manjuru!
Miriti! Marau! Andirá!

lagarta de fogo, Sateré!
lagarta de fogo, Sateré!
papagaio falante, Mawé!

Luar no céu! no céu!
Encanto no ar! no ar!
Do sangue guerreiro
do povo do Guaraná!



Iacoamã Icumaató!

Tem Caxiri! Tarubá!
e Guaraná-çapó!

Ó! Ó! Ó! Ó!

lagarta de fogo, Sateré!
lagarta de fogo, Sateré!
papagaio falante, Mawé!






                         

                        É fim de ano! E toda a tribo está reunida pros festejos da passagem de ano. Motivo de muita festa, alegria e confraternização. De agradecimento pela colheita, considerando todos os acontecimentos. Desde as dificuldades todas até a fartura do peixe, da caça, do plantio, dos nascidos. Todos celebramos juntos. A mesa é farta de muitos frutos colhidos na floresta, como o açaí, o tucumã, a pupunha, a bacaba e, principalmente, o Çapó (Paullínia Sorbilis, o conhecidíssimo Guaraná!). Também tem muita carne de animais da criação, bem como a de caçados na floresta. É o momento que se renova a cada ano, permitindo a nós, Sateré Mawé, comungarmos de nossa gênese mítica, revigorando-nos espiritualmente e, portanto, etnicamente.

                        Momento em que são contadas muitas histórias transmitidas por parentes nossos que habitam o Noçokém - dimensão das representações simbólicas que nos permitem o intercâmbio com o mundo espiritual. Nesse sentido, importa lembrar aqui, com as diferenças justas, a semelhança existente entre as alterações da existência para a alma humana e os insetos de metamorfose completa, como é o caso da borboleta, e as nossas representações simbólicas.

                        A larva da lagarta, como os insetos de transformação total, experimenta vários períodos de renovação até atingir a condição de adulto, muito embora permaneça com o mesmo aspecto, porquanto apenas depois da derradeira mudança de pele é que se torna o que chamaremos de casulo ou pupa.

                        Nessa condição, acusa progressiva diminuição de atividade, até que não mais suporte alimentar-se. Esvaziam-se-lhe os intestinos e paralisam-se-lhe os movimentos. A larva protege-se, então, no solo ou na planta, preparando-se para o ritual de passagem, necessário para a sua própria liberação e evolução.

                        Permanece, assim, imóvel, e não se alimenta do ponto de vista fisiológico, encrisalizando-se em fios de seda por ela própria constituídos com a secreção das próprias glândulas salivares, agregados a pequeninos tratos de terra, ou nos vegetais com que tem contato, formando, desse modo, o casulo em que repousa, durante certo tempo, que pode durar alguns dias e até meses.

                        Na situação de pupa, ao impacto das vibrações de sua própria organização natural, sofre profunda modificação em seu organismo, modificação que equivale a verdadeiro aniquilamento ou esvaziamento das aparentes forças vitais, ao mesmo tempo em que elabora órgãos novos, valendo-se dos tecidos que perduraram.

                        Então, somente quando as ocorrências da metamorfose se realizam completamente, é que o novo ser, integralmente renovado, abandona o casulo, revelando-se por leve, ágil e de cores vibrantes, como acontece com a borboleta. Entretanto, embora magnificentemente modificada, a borboleta alada e multicor é o mesmo indivíduo, somando em si as experiências dos três aspectos fundamentais de sua existência de larva, ninfa e inseto adulto.

                        Semelhantemente, a criança recém-nata retira-se do útero e entra em nova fase de evolução, que se firma através de alguns anos. A princípio, tenra e frágil, retém na própria organização física todos os recursos que lhes foram doados pela natureza para que possa existir.

                        A criança se desenvolve, satisfazendo os imperativos da própria vida, alimentando-se o necessário para manter-se saudável, de maneira que se lhe ajuste aos desígnios traçados desde o Noçokem, no mundo espiritual. Assim, a criatura humana, depois do período infantil, atravessa expressivas etapas de renovação interior, até alcançar a madureza corpórea, e até que chegue o esgotamento da força vital no curso da vida, através da senectude pelos anos vividos, pelo esgotamento natural dos órgãos ou por intervenção de enfermidade, é quando se habilitará à transformação mais profunda.

                        Nesse período característico do esgotamento natural dos órgãos ou por acometimento de moléstia irreversível, demonstra gradativa diminuição de atividade – como a pupa -, não mais aceitando a alimentação. Pouco a pouco, declinam-se as suas atividades fisiológicas e a inércia substitui-lhe os movimentos. Prepara-se, desde então, quase sempre deitado na rede, para fazer a passagem, para o trabalho liberatório, necessário para a sua própria evolução. Chega, assim, o momento em que se imobiliza na cadaverização, mumificando-se à feição da crisálida, mas envolvendo-se no mais íntimo do seu ser com os fios dos próprios pensamentos, conservando-se nesse casulo de forças mentais, construído por suas próprias ideias, pela sua própria mente. 

                        No ciclo de metamorfose de seu corpo, padece extremas alterações até que os acontecimentos da morte se realizam. Acariciado pelo bafejo edificante dos Condutores Espirituais que lhe acalentam a marcha, o espírito dorme o sono da morte, mumificando-se na cadaverização, como acontece à pupa. Plenamente renovada em si mesma, a criatura humana abandona o corpo físico. 

                        Metamorfoseada, não obstante ter abandonado o corpo físico, a personalidade humana continua, além túmulo, aprendendo sem perder a própria identidade, somando consigo as experiências da vida na terra, da passagem e da metamorfose sofrida no Noçokem, ou seja, no plano espiritual.

                        Aprendemos desse modo, que a nossa existência deve atender a pressupostos de conduta moral, onde temos a oportunidade, dada por Deus, de atendermos à plantação dos sentimentos, palavras, atitudes e ações com que, no Noçokem, encontrar-nos-emos com a colheita dessa sementeira praticada na forma física, com que entesouramos ou não as experiências necessárias a sublime ascensão a que todos somos destinados.

                        Assim sendo, como o pássaro para desenvolver-se no ovo precisa aquecer-se ao calor da ave que o acolha maternalmente, e assim como a semente, para liberar os princípios germinativos da árvore gigantesca em que se converterá, precisa da terra, os espíritos que habitam o Noçokem, sequiosos de reintegração no mundo físico, necessitam da mulher, cuja matriz uterina oferecer-lhes-á novas formas e, assim como a larva, assegurando a esperada metamorfose, o espírito avança em mais uma experiência, em novo corpo físico, adquirindo méritos ou deméritos, segundo a própria conduta, e entregando-se em seguida, novamente ao fenômeno da morte da matéria física. É assim que a consciência nascente do homem se desenvolve para a eternidade. 

                        Acreditamos que todas as coisas criadas por Deus estão em constante evolução, segundo leis naturais estabelecidas por Ele mesmo e, portanto, são inderrogáveis, ou seja, são imutáveis. Resta-nos aprender com a observação dos acontecimentos naturais, para retirarmos daí as mais sublimes lições de vida necessárias para a continuidade de nossa existência nessa romagem eterna ascensional.

                        Então, tudo é só alegria! 

                        Vamos todos comemorar mais uma passagem, pois temos muito, muito, muito ainda que aprender e nos desenvolvermos como seres criados para a eternidade!




Ribumba tambor!
Ribumba tambor!
Faz tremer este chão!


 Dança filho da terra,
o canto mais forte é o
grito de guerra!



Ô! Ô! Ô! Ô!

Ô! Ô! Ô! Ô!


 Hei! Hei! Hei! Hei! Hei! Há!
Hei! Hei! Hei! Hei! Há!
 


O coração desperta! 


Heira! Heira! Heira! Hei!
Heira! Heira! Heira! Hei!

Heira! Heira! Heira! Hei!
Heira! Heira! Heira! Hei!



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